Virgulino Ferreira da Silva,
nasceu em Serra Talhada, 4 de Junho de 1898 ( ou 7 de julho de 1897 ou 4 de
junho de 1898 ou 12 de fevereiro de 1900, há algumas controvérsias)
CONTEXTO HISTÓRICO:
Sertão nordestino, seca,
fome, desigualdades, transição do Séc. XIX para o XX, primeiras décadas da
República, nesse cenário surge o Cangaço, caracterizando-se por ações violentas
de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, sequestravam coronéis
(grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns.
Cangaceiros não tinham
moradia fixa, eram muitas vezes contratados como mercenários, fazendo os
serviços sujos para os coronéis. Perambulavam pelo sertão, praticando crimes,
fugindo e se escondendo.
A palavra deriva de canga,
peça de madeira simples ou dupla que se coloca na parte posterior do pescoço de
bois nos carros de boi. Devido aos utensílios que os homens carregavam no
corpo, o nome foi incorporado.
Como conheciam muito bem a
mata, rotas de fuga, ervas medicinais, e tinham ajuda de coiteiros (pessoas que
auxiliavam na fuga, ou davam abrigo, simpatizantes), não era uma missão fácil
para o Estado captura-los.
O Estado, se atualmente é
omisso, quanto a questão da pobreza no nordeste, no início do Séc. XX, o povo
estava abandonado a própria sorte, a seca e a miséria predominavam, onde os coronéis(fazendeiros) eram a lei.
Vidas secas, de Graciliano Ramos |
Voltemos a Lampião, em 1915,
ele acusa um empregado do vizinho José Saturnino de roubar bodes de sua
propriedade. Começa, então, uma rivalidade entre as duas famílias. Quatro anos
depois, Virgulino e dois irmãos se tornaram bandidos.
Matavam o gado do vizinho e
assaltavam. Os irmãos Ferreira passaram a ser perseguidos pela polícia e fugiram
da fazenda. A mãe de Virgulino morreu durante a fuga e, em seguida, num
tiroteio, os policiais mataram seu pai. O jovem Virgulino jurou vingança.
Lampião formou o seu bando a
princípio com dois irmãos, primos e amigos, cujos integrantes variavam entre 30
e 100 membros, e passou a atacar fazendas e pequenas cidades em cinco estados
do Brasil, quase sempre a pé e às vezes montados a cavalos.
Foram criadas volantes, policiais
mais soldados temporários, milícias armadas para tentar combater e capturar os
cangaceiros, que por foram apelidados de “macacos” pelo jeito que batiam em
retirada, pulando.
Lampião ficou famoso pela
sua disciplina, vestes impecáveis, cheias de adornamentos, cousa que todo o
bando copiava, a vaidade dos cangaceiros era uma de suas marcas registradas.
Lampião roubava comerciantes
e fazendeiros, sempre distribuindo parte do dinheiro com os mais pobres. No
entanto, seus atos de crueldade lhe valeram a alcunha de "Rei do
Cangaço".
Quando bem recebidos,
promoviam bailes, festas, entretanto com os que o enfrentava ou lhe afrontava,
mostrava todo seu lado maligno e sanguinolento.
Seu bando sequestrava
crianças, botava fogo nas fazendas, exterminava rebanhos de gado, estuprava
coletivamente, torturava, marcava o rosto de mulheres com ferro quente. Antes
de fuzilar um de seus próprios homens, obrigou-o a comer um quilo de sal.
Assassinou um prisioneiro na frente da mulher, que implorava perdão. Lampião
arrancou olhos, cortou orelhas e línguas, sem a menor piedade.
Para matar os inimigos,
enfiava longos punhais entre a clavícula e o pescoço (sangrar o cabra).
Em 1926, a fim de combater a
Coluna Prestes, marcha de militares rebelados, liderados por Luiz Carlos
Prestes, o governo se aliou ao cangaceiro, fornecendo fardas e fuzis
automáticos.
Luiz Carlos Prestes, líder da Coluna |
Por indicação do Padre
Cícero, o qual disse que somente Lampião poderia conter a Coluna Prestes, foi
formalizado um pacto, no qual resultou o encontro do padre com Lampião
(Virgulino era devoto do Padre Cícero), isso em Juazeiro.
Virgulino aceita a
empreitada, em troca de anistia de seus crimes, recebe um documento de livre
acesso entre os Estados, e é nomeado a patente de Capitão, claro que a anistia nunca veio.
Área de atuação dos bando Lmapião |
Existem duas versões para o
seu apelido. Dizem que, ao matar uma pessoa, o cano de seu rifle, em brasa,
lembrava a luz de um lampião. Outros garantem que ele iluminou um ambiente com
tiros para que um companheiro achasse um cigarro perdido no escuro.
"Olé, Mulher Rendeira,
Olé mulhé rendá
Tu me ensina a fazer renda,
eu te ensino a namorá."
Música composta por Lampião, que poucos sabem.
MARIA BONITA
Em 1929, conheceu Maria Déia,
a Maria Bonita, a qual não era tão bonita assim. Também há algumas
controvérsias de como se conheceram, o fato é que a partir daí começam a entrar
mulheres no cangaço.
Em vinte anos de cangaço, de
1918 a 1938, chegou a liderar 200 homens, enfrentar numa ocasião 4000 soldados,
o cerco a Lampião ia se afunilando.
A VOLANTE, OS "MACACOS" |
No dia 28 de julho de 1938,
na Fazenda Angico, em Sergipe, por volta das 5h15, os trinta homens e cinco
mulheres estavam começando a acordar, quando foram vítimas de uma emboscada de uma
tropa de 48 policiais de Alagoas, comandada pelo tenente João Bezerra.
Ten. João Bezerra |
O combate durou somente 10
minutos. Os policiais tinham a vantagem de quatro metralhadoras Hotkiss.
Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram mortos e tiveram suas cabeças
cortadas (prática muito usada na época). Maria foi degolada viva. Os outros conseguiram escapar
O cangaço terminou em 1940,
com a morte de Corisco, o "Diabo Loiro", o último sobrevivente do
grupo comandando por Lampião.
Devido a literatura de
cordel, e sua fama de invencível, que perdurou por 20 anos, sua figura foi elevada
de simples bandido a um herói, onde a seca, miséria, fome, injustiças e muitos outros fatores faziam
parte do cotidiano do sertanejo, as pessoas viam em Lampião, alguém que enfrentava, a sua maneira, o governo e os coronéis, uma resistência às mazelas.
Surge assim o mito de
Lampião, que foi imortalizado no imaginário dos fortes sertanejos, sobressaindo seus atos bons aos ruins.