Com a eclosão da segunda Grande
Guerra, em 1939, o Brasil praticamente, se transformaria, pois os Estados
Unidos, tentando afastar a influência nazista da América Latina, que devido a
seu atraso econômico, o qual gerava miséria, proporcionava condições para a
propagação de ideais fascistas ou socialistas, o que estaria em desacordo com
os interesses dos EUA.
Para combater tais “perigos” e lograr uma hegemonia
político-econômico-estratégico, formou-se no ano de 1940 a Comissão
Interamericana de Desenvolvimento, com o objetivo de promover economicamente as
“outras Repúblicas americanas”. Para os estadunidenses a fraqueza, não só
econômica e social, mas também militar dos países Latinos Americanos era uma
real ameaça.
O Brasil, governado por Getúlio
Vargas, que era simpatizante da política nazi fascista, cuja ideologia também
era atraente para muitos brasileiros, somado ao fator da ascensão alemã, que
ampliava seus domínios, suas conquistas, e rivalizava com os Estados Unidos, no
campo econômico, sendo o segundo maior parceiro econômico brasileiro.
Já no início dos anos 1930, a disputa
entre as das nações, EUA e Alemanha, pela América Latina se acirrava, e o
Brasil, dado sua posição estratégica no Atlântico e como era exportador de
produtos de matéria prima e importador de manufaturados, era um país essencial
para ter como aliado.
Como não havia uma definição por
parte da política externa brasileira, aumentou a preocupação dos estadunidenses
para com a crescente e ostensiva atração do governo Vargas em relação ao
nazi-fascismo.
Com um plano meticulosamente
planejado, os EUA resolveram investir pesado no Brasil, tanto em
dinheiro quanto na introdução (via sedução) do estilo de vida padrão dos
estadunidenses.
É iniciada a Política da Boa Vizinhança, que viria a ser uma aproximação política,
econômica e cultural entre os dois países, para se garantir o apoio brasileiro e manter a soberania dos
Estados Unidos na disputa com o Eixo.
A campanha teve início uma maior integração entre empresas e
governo, a política ou “o plano” previa, entre outras coisas, reduzir taxas de
importação sobre produtos latino-americanos, dar incentivo a investimentos,
objetivando assegurar a produção de matérias-primas, e a criação de um sistema
de transporte para o adequado escoamento de toda produção e a flexibilização e
análise da dívida externa.
Vargas e Nelson Rockefeller |
Em 1940, é criado o Office for
Coordination Of Commercial and Cultural Relations between the Americas (OCIAA),
uma super agencia de coordenação dos negócios interamericanos, sob a chefia de
Nelson Rockefeller, um jovem milionário de 32 anos, pertencente a família
proprietária da Standard Oil Company.
A todo custo, tinha-se que impedir o
crescimento do comércio e a influência do eixo nazifascista na região,
combatendo os movimentos nacionalistas de uma maneira diferente.
Para Nelson Rockefeller, o futuro dos
investimentos na América Latina não dependia exclusivamente dos produtos e sim
da venda de uma ideia, que era o modo de vida estadunidense.
Assim o american way of life começou
a ganhar espaço e a seduzir a sociedade brasileira, para tal feito o Office
contava com as divisões de comunicações, relações culturais, saúde e
comercial/financeira. Sendo cada divisão subdividia-se em outras seções: rádio,
cinema, imprensa; arte, música, literatura; problemas sanitários; exportação,
transporte e finanças. Tendo nesse tempo total apoio do DIP (Departamento de
Imprensa e Propaganda), criando anteriormente por Vargas.
Os meios de comunicações objetivavam
difundir informações positivas sobre os Estados Unidos, e também contra-atacar
a propaganda do eixo, passando uma imagem forte e favorável dos Estados.
O cinema estadunidense, depois do
bloqueio britânico, encontrava-se em situação privilegiada, pois os filmes
alemães não tinham projeção nas Américas. Nesse bojo desembarcam a serviço dos
EUA artistas famosos como o cineasta Orson Welles, Walt Disney.
Carmem Miranda foi elevada a símbolo
da cultura brasileira nos Estados Unidos, o bom malandro, Zé Carioca corroborou
com a construção do típico do brasileiro simpático, aterrissam por aqui também
empresas como a Coca-Cola e a Kibon, mudando os hábitos nacionais
gradativamente.
Walter Disney no Rio de Janeiro |
Surge ai o personagem Zé Carioca... o típico "bom malandro", um esteriótipo do brasileiro (adora um jeitinho, não gosta de trabalhar, simpático, amigável e é bom de papo) |
No rádio brasileiro, até o início da
Segunda Grande Guerra, era pouco explorado por emissoras estadunidenses, cousa
diferente acontecia com países como Alemanha e da Itália, que tinham uma
programação específica para o Brasil, por entenderem ser o rádio um meio de
comunicação eficaz para espalhar a ideologia do governo.
O Brasil que até então era neutro, com uma forte simpatia pelo nazi-fascismo, decide entrar na guerra ao lado dos aliados.
Nelson Rockefeller, negocia então com
as emissoras para que diminuíssem o valor cobrado, possibilitando assim, as
transmissões radiofônicas estadunidenses no Brasil. Os quais reforçavam a ideia de
que os EUA eram capazes de derrotar o Eixo, mais somente, se o continente se
unisse a eles, pois seria uma vitória da “democracia”.
Ao fundo é o morro do careca, na praia de Ponta Negra em Natal. |
Sobre o comando de Nelson
Rockefeller, o Office conseguiu erradicar a influência do Eixo no Brasil, e
também sedimentar o discurso pan-americanista da solidariedade continental.
Para tal a América Latina já estava dentro da zona de influência estadunidense,
a hegemonia territorial adquirida, serviu como espécie de bloqueio, com exceção
de Cuba, para um novo cenário mundial, a guerra fria.
Os EUA concederam "amigavelmente" uma linha de crédito de US$ 20 milhões, o qual foi usado pra iniciar um processo de industrialização do país, é criada então a Companhia Siderúrgica Nacional |
Os meios de comunicação, que foram ou
inseridos ou aprimorados em terras brasileiras, dada a amizade de Nelson
Rockefeller com J. Edgar Hoover, chefe do FBI,
possibilitaram trocas de informações, de dados, é iniciada ai a base de um
longo serviço de inteligência/espionagem para com os países “estratégicos” e de
interesse estadunidense.
Fonte: TOTA, Antônio Pedro. O imperialismo sedutor. São Paulo: Companhia das letras, 2000.