Até
onde vai iria pelos seus ideais?
Várias
pessoas ao longo da história foram até as últimas consequências pelos que acreditavam ser o certo...
Uns
param tanques de guerra, sozinho, na praça da Paz Celestial, em plena China
comunista;
Tem
quem ateie fogo em seu próprio corpo, protestando contra a perseguição religiosa, ficado imóvel em meio as labaredas;
Outros, em plena entrega de uma medalha olímpica, ousam enfrentar o racismo, e toda
injustiça que ocorriam em seu país, num gesto que lhes custou a carreira...
Enfim, há diversos homens e mulheres que de
alguma forma ousaram em lutar pelos seus direitos ou pelo seus ideais, senso de justiça...
Aprendi
há um tempo, que existem basicamente três tipos de pessoas: os conformados, os
alienados e os revoltados...
Esse clip retrata a tomada da rádio Nacional, numa ousada ação, visto que a rádio era o Jornal Nacional da Globo da época, pelo seu alcance nas massas, onde foi divulgado um manifesto.
Eis
aqui a história do homem, talvez o mais "revoltado" brasileiro que já existiu, parafraseando a música dos Racionais Mc's, “revolução
no Brasil tem um nome”, e esse nome ousou enfrentar a tudo e a todos pelo que acreditava
ser o certo...
Carlos
Marighella, o homem que enfrentou duas ditaduras, viveu na clandestinidade por
quase 40 anos, e que chegou a se considerado o inimigo número 1 pela ditadura militar.
Soteropolitano,
nascido em 5 de dezembro de 1911, filho de Augusto Marighella, imigrante
italiano e Maria Rita do Nascimento, negra, filha de escravos africanos
trazidos do Sudão.
De
um lado tinha a influência do anarquismo siciliano, doutro a descendência
africana dos negros malês, que fizeram revoluções contra o escravagismo no início
do século XIX na Bahia.
Como se destacava nos estudos, seu futuro
acadêmico era certo. Assim ingressou na Escola Politécnica da Bahia, em
engenharia, más como bom sonhador, Marighella abandona a escola, por um sentimento
de indignação frente a miséria que assolava o país, onde segundo ele mesmo “crianças
tinham que trabalhar para comer”, então se dedica a militância comunista, em
1934.
Em 1936
durante a ditadura de Vargas, Marighella foi preso e enfrentou as terríveis torturas da polícia de Filinto Müller, sendo solto pela
“macedada”, nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação,
isso após um ano e meio de cárcere.
Já
na clandestinidade, mudou-se para São Paulo, passa a agir em torno
de dois eixos: a reorganização dos revolucionários comunistas, duramente
atingidos pela repressão, e o combate ao terror imposto pela ditadura de
Getúlio Vargas.
Preso
novamente em 1939, sendo mais uma vez torturado de forma brutal, na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS)
de São Paulo, mas se negando a fornecer qualquer informação à polícia, mesmo
após ter diversas queimaduras de cigarro pelo corpo, agulhas enfiadas sob suas
unhas.
Recolhido
aos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande pelos seis anos seguintes, solto em 1945, beneficiado com a anistia pelo processo de redemocratização do
país.
Como
Vargas foi deposto, são convocadas eleições gerais, Marighella é eleito
deputado federal constituinte pelo estado da Bahia, em chapa conjunta com Luis
Carlos Prestes, grande nome do PCB.
Com
o mandato cassado pela repressão que o governo Dutra desencadeou contra os
comunistas, Marighella foi obrigado a retornar à clandestinidade em 1948.
Nesta
fase visitaria a China Popular e a União Soviética, e anos depois, conheceria
Cuba. Em suas viagens pode examinar de perto as experiências revolucionárias
vitoriosas daqueles países.
No
Brasil, tínhamos na década de 50 uma época de mudanças, aparente desenvolvimento
sócio-político-cultural. No mundo também diversas mudanças, revolução chinesa, revolução cubana,
resistência do Vietnã, e começo da guerra fria, a qual dividiu o mundo, e criou um clima de apreensão, medo de uma guerra nuclear.
No início da década de 1960, o país efervescia, greves sociais, reivindicação agrária,
estudantil, o comunismo avançando sobre o mundo, época que se pleiteavam grandes mudanças.
Veja mais em CONSPIRAÇÃO KENNEDY e OPERAÇÃO CONDOR
Marighella
estava receoso de um possível golpe, pois pressentia a movimentação e
inquietação dos militares, ai vem o dia que durou 21 anos, 31 de março de 1964
(que na verdade foi em 1º de abril, mudado para não coincidir com o dia da
mentira).
Nesse documentário, fica claro o interesse e a ajuda financeira e logística, dos EUA, fomentando os militares brasileiros a tomarem o poder, conjuntamente a um governante fraco, Jango, o qual não esboçou nenhuma reação ao golpe.
Jango
deposto, assume Humberto Castelo Branco, no mesmo ano Marighella foge junto com
sua esposa Clara Charf, já sendo procurado pela ditadura. É perseguido e
baleado num cinema no Rio, dia 9 de maio de 1964, posterior novamente preso.
Em
dezembro de 1966, em carta à Comissão Executiva do PCB, requereu seu
desligamento da mesma, explicitando a disposição de lutar revolucionariamente
junto às massas, criticando a imobilidade do partido, funda a ALN, Ação
Libertadora Nacional, para de armas em punho,
enfrentar a ditadura.
Inicia-se
os anos de chumbo, endurecimento do regime militar, a partir do final de 1968, que
culminou numa repressão sem precedentes. Marighella passou a ser apontado como
Inimigo Público Número Um, transformando-se em alvo de uma caçada que envolveu,
a nível nacional, toda a estrutura da polícia política.
Em
setembro de 1969, a ALN participou do sequestro do embaixador norte-americano
Charles Elbrick, em uma ação conjunta com o Movimento Revolucionário 8 de
Outubro (MR-8).
Ação que Marighella era contrário, pois a represaria da
ditadura certamente iria sufocar os movimentos de resistência, más mesmo assim parabenizou o feito, e sem ter participado, foi considerado o mentor do sequestro para a mídia e o governo. Com a colaboração da CIA, intensificou-se a repressão, as torturas, levando a violência da ditadura a seu seu ápice, o que era grande temor de Marighella.
A
policia intercepta um telefone, o qual era do convento dos Frades Dominicanos, pois alguns frades
ajudavam à resistência. Após prender e
torturar todos os frades, sobre as ordens do famoso delegado Sergio Paranhos
Fleury, fizeram com que os líderes, Fernando de Brito e
Yves do Amaral Lebauspin, conhecido como Frei Ivo, marcassem um encontro com
Marighella.
"Aqui
é o Ernesto, vou à gráfica hoje", com essa frase o encontro foi marcado por telefone.
Ao
chegar ao local combinado, Alameda Casa Branca, São Paulo, próximo ao nº 800,
às 20h, dirigiu-se ao Fusca dos frades, onde Marighella sofreu uma emboscada
pela polícia, sendo executado e colocado na parte traseira do fusca, de modo a
parecer que houve resistência e não execução.
O
fato é que a ditadura queria a todo custo elimina-lo, pois se o prendesse
devido a sua fama, ele seria um mártir, tal qual Mandela.
Marighella
estava pro Brasil, como Guevara pros cubanos, era o símbolo máximo da
resistência, da revolução, isso numa época que se você tivesse cabelo grande era preso, se
usasse brinco era preso, se sorrisse era preso, ou seja, época de puro terror, época em que pessoas sumiam do nada, direitos civis inexistiam...
Hoje
em dia é muito fácil dizer-se revolucionário, ser contra o sistema, criticar o
governo, a polícia, entretanto fazer isso na época da ditadura... Necessitava
de se ter “culhão”, pois ser preso era o menor dos problemas...
Infelizmente
pessoas como Marighella, Barão Mauá, Amaral Gurgel, entre outros, que sonharam
em um Brasil melhor, foram ceifados de seus sonhos, de um jeito ou de outro, sempre por interesses escusos.
No
Brasil atualmente não existem mais movimentos revolucionários, há grupos
isolados que questionam e cobram os governantes, porém, a grande massa, está interessada no panis et circenses (carnaval, futebol, novela e reality show), são condicionados a pensar que política é coisa chata, sem perceber que os
ausentes nunca tem razão, e que quem não gosta de política é governado por quem gosta e muito.
FONTES:
Ratton, Helvecio.
Batismo de Sangue, Quimera filmes, 2007 – Brasil.
Tendler, Silvio.
Marighella, retrato falado do guerrilheiro (documentário), 2001 – Brasil.
Ferraz, Isa Grinspum.
Marighella (documentário), Paris Filmes, 2011 – Brasil.
Tavares, Camilo. O dia
que durou 21 anos (documentário), Pequi filmes 2013 – Brasil.