"UMA MENTE EXPANDIDA PELO CONHECIMENTO JAMAIS RETORNA AO SEU TAMANHO ORIGINAL"

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

MARIGHELLA, A REVOLUÇÃO EM PESSOA

Até onde vai iria pelos seus ideais?

Várias pessoas ao longo da história foram até as últimas consequências pelos que acreditavam ser o certo...

Uns param  tanques de guerra, sozinho, na praça da Paz Celestial, em plena China comunista;
Tem quem ateie fogo em seu próprio corpo, protestando contra a perseguição religiosa, ficado imóvel em meio as labaredas;
Outros, em plena entrega de uma medalha olímpica, ousam enfrentar o racismo, e toda injustiça que ocorriam em seu país, num gesto que lhes custou a carreira...
Enfim, há diversos homens e mulheres que de alguma forma ousaram em lutar pelos seus direitos ou pelo seus ideais, senso de justiça...

Aprendi há um tempo, que existem basicamente três tipos de pessoas: os conformados, os alienados e os revoltados...




Esse clip retrata a tomada da rádio Nacional, numa ousada ação, visto que a rádio era o Jornal Nacional da Globo da época, pelo seu alcance nas massas, onde foi divulgado um manifesto.
Eis aqui a história do homem, talvez o mais "revoltado" brasileiro que já existiu, parafraseando a música dos Racionais Mc's, “revolução no Brasil tem um nome”,  e esse nome ousou enfrentar a tudo e a todos pelo que acreditava ser o certo...
Carlos Marighella, o homem que enfrentou duas ditaduras, viveu na clandestinidade por quase 40 anos, e que chegou a se considerado o inimigo número 1 pela ditadura militar.



Soteropolitano, nascido em 5 de dezembro de 1911, filho de Augusto Marighella, imigrante italiano e Maria Rita do Nascimento, negra, filha de escravos africanos trazidos do Sudão.
De um lado tinha a influência do anarquismo siciliano, doutro a descendência africana dos negros malês, que fizeram revoluções contra o escravagismo no início do século XIX na Bahia.

 Como se destacava nos estudos, seu futuro acadêmico era certo. Assim ingressou na Escola Politécnica da Bahia, em engenharia, más como bom sonhador,  Marighella abandona a escola, por um sentimento de indignação frente a miséria que assolava o país, onde segundo ele mesmo “crianças tinham que trabalhar para comer”, então se dedica a militância comunista, em 1934.

Em 1936 durante a ditadura de Vargas, Marighella foi preso e enfrentou as terríveis torturas da polícia de Filinto Müller, sendo solto pela “macedada”, nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação, isso após um ano e meio de cárcere.
Já na clandestinidade, mudou-se para São Paulo, passa a agir em torno de dois eixos: a reorganização dos revolucionários comunistas, duramente atingidos pela repressão, e o combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio Vargas.
Preso novamente em 1939, sendo mais uma vez torturado de forma brutal,  na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, mas se negando a fornecer qualquer informação à polícia, mesmo após ter diversas queimaduras de cigarro pelo corpo, agulhas enfiadas sob suas unhas.

Recolhido aos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande pelos seis anos seguintes, solto em 1945, beneficiado com a anistia pelo processo de redemocratização do país.

Como Vargas foi deposto, são convocadas eleições gerais, Marighella é eleito deputado federal constituinte pelo estado da Bahia, em chapa conjunta com Luis Carlos Prestes, grande nome do PCB.
Com o mandato cassado pela repressão que o governo Dutra desencadeou contra os comunistas, Marighella foi obrigado a retornar à clandestinidade em 1948.

Escrito em Junho de 1969, foi considerada a "bíblia" dos guerrilheiros, sendo lido em diversos países, até mesmo nos EUA, pelos Black Panthers, livro que foi  minuciosamente analisado pela CIA
Nesta fase visitaria a China Popular e a União Soviética, e anos depois, conheceria Cuba. Em suas viagens pode examinar de perto as experiências revolucionárias vitoriosas daqueles países.

No Brasil, tínhamos na década de 50 uma época de mudanças, aparente desenvolvimento sócio-político-cultural. No mundo também diversas mudanças, revolução chinesa, revolução cubana, resistência do Vietnã,  e começo da guerra fria, a qual dividiu o mundo, e criou um clima de apreensão, medo de uma guerra nuclear.

No início da década de 1960, o país efervescia, greves sociais, reivindicação agrária, estudantil, o comunismo avançando sobre o mundo, época que se pleiteavam grandes mudanças. 

Telegramas do então embaixador estadunidense, Lincon Gordon, endereçadas ao presidente Kennedy, as quais deixava claro que o Brasil, com o Governo Jango, flertava com o comunismo, e criou-se todo um clima pré golpe, pois não permitiriam outra Cuba ou outra China, referindo-se ao Brasil.
Veja mais em CONSPIRAÇÃO KENNEDY   e  OPERAÇÃO CONDOR

Marighella estava receoso de um possível golpe, pois pressentia a movimentação e inquietação dos militares, ai vem o dia que durou 21 anos, 31 de março de 1964 (que na verdade foi em 1º de abril, mudado para não coincidir com o dia da mentira).


Nesse documentário, fica claro o interesse e a ajuda financeira e logística, dos EUA, fomentando os militares brasileiros a tomarem o poder, conjuntamente a um governante fraco, Jango, o qual não esboçou nenhuma reação ao golpe.


Jango deposto, assume Humberto Castelo Branco, no mesmo ano Marighella foge junto com sua esposa Clara Charf, já sendo procurado pela ditadura. É perseguido e baleado num cinema no Rio, dia 9 de maio de 1964, posterior novamente preso.
Marighella mostrando o local que foi alvejado pelos disparos
Em dezembro de 1966, em carta à Comissão Executiva do PCB, requereu seu desligamento da mesma, explicitando a disposição de lutar revolucionariamente junto às massas, criticando a imobilidade do partido, funda a ALN, Ação Libertadora Nacional, para de armas em punho,  enfrentar a ditadura.


Inicia-se os anos de chumbo, endurecimento do regime militar, a partir do final de 1968, que culminou numa repressão sem precedentes. Marighella passou a ser apontado como Inimigo Público Número Um, transformando-se em alvo de uma caçada que envolveu, a nível nacional, toda a estrutura da polícia política.

Em setembro de 1969, a ALN participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em uma ação conjunta com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
Ação que Marighella era contrário, pois a represaria da ditadura certamente iria sufocar os movimentos de resistência, más mesmo assim parabenizou o feito, e sem ter participado, foi considerado o mentor do sequestro para a mídia e o governo. Com a colaboração da CIA, intensificou-se  a repressão, as torturas, levando a violência da ditadura a seu seu ápice, o que era grande temor de Marighella.
Livro e posterior filme, que retratam como se deu a prisão dos frades dominicanos e posterior torturas que foram submetidos, tudo para que entregassem Marighella.




A policia intercepta um telefone, o qual era do convento   dos Frades Dominicanos, pois alguns frades ajudavam à resistência. Após prender e torturar todos os frades, sobre as ordens do famoso delegado Sergio Paranhos Fleury, fizeram com que os líderes, Fernando de Brito e Yves do Amaral Lebauspin, conhecido como Frei Ivo, marcassem um encontro com Marighella.
"Aqui é o Ernesto, vou à gráfica hoje", com essa frase o encontro foi marcado por telefone.

Ao chegar ao local combinado, Alameda Casa Branca, São Paulo, próximo ao nº 800, às 20h, dirigiu-se ao Fusca dos frades, onde Marighella sofreu uma emboscada pela polícia, sendo executado e colocado na parte traseira do fusca, de modo a parecer que houve resistência e não execução.
O fato é que a ditadura queria a todo custo elimina-lo, pois se o prendesse devido a sua fama, ele seria um mártir, tal qual Mandela.
Marighella estava pro Brasil, como Guevara pros cubanos, era o símbolo máximo da resistência, da revolução, isso numa época que se você tivesse cabelo grande era preso, se usasse brinco era preso, se sorrisse era preso, ou seja, época de puro terror, época em que pessoas sumiam do nada, direitos civis inexistiam...
Hoje em dia é muito fácil dizer-se revolucionário, ser contra o sistema, criticar o governo, a polícia, entretanto fazer isso na época da ditadura... Necessitava de se ter “culhão”, pois ser preso era o menor dos problemas...
Clara Charf, companheira de Marighela,  enfrente a pedra que marca o local do assassinato.
Infelizmente pessoas como Marighella, Barão Mauá, Amaral Gurgel, entre outros, que sonharam em um Brasil melhor, foram ceifados de seus sonhos, de um jeito ou de outro, sempre por interesses escusos.
No Brasil atualmente não existem mais movimentos revolucionários, há grupos isolados que questionam e cobram os governantes, porém, a grande massa, está interessada no panis et circenses (carnaval, futebol, novela e reality show), são condicionados a pensar que política é coisa chata, sem perceber que os ausentes nunca tem razão, e que quem não gosta de política é governado por quem gosta e muito.

FONTES:
Ratton, Helvecio. Batismo de Sangue, Quimera filmes, 2007 – Brasil.
Tendler, Silvio. Marighella, retrato falado do guerrilheiro (documentário), 2001 – Brasil.
Ferraz, Isa Grinspum. Marighella (documentário), Paris Filmes, 2011 – Brasil.
Tavares, Camilo. O dia que durou 21 anos (documentário), Pequi filmes     2013 – Brasil.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O DIABO EXISTE?


Figura muito presente na cultura judaico-cristã, e também presente em muitas religiões, que se baseiam  no binômio bem  versus mal, sendo que todo o mal do mundo só existe pelo fato desse ser corromper as mentes fracas...o tinhoso, o demo, o cramunhão, belzebu, satanás, lúcifer, a besta 666  ou simplesmente o diabo....
 Só que essa personificação do mal, nem sempre existiu da forma que conhecemos hoje, historicamente, foram feitos inúmeros sincretismos, incorporando a essa figura do mal, elementos de outras mitologias, pois deuses ou espíritos malignos estão presentes em muitas culturas.

A palavra "Satã" significa em hebraico "acusador","opositor". Aparece, pela primeira vez no livro de Jó, sendo como um promotor celestial.
 
O livro de Jó, foi  escrito depois do Exílio Babilônico. O rei persa Ciro, no ano 538 a.C, permitiu que os hebreus cultuassem seu Deus livremente, os hebreus por sua vez assimilaram alguns costumes dos persas devido a simpatia e apoio que receberam, fato quase único na história, pois os hebreus foram perseguidos quase que em todos os locais onde viveram.

A religião dos persas, o Zoroastrismo, existe o Deus supremo Ahura-Mazda, que sofre a oposição de uma outra força poderosa, conhecida como Angra Mainyu, ou Ahriman, "o espírito mau", a partir daí todas as pessoas devem escolher um lado.
 

O Zoroastrismo  ensina o triunfo final do bem sobre o mal. No fim, haverá punição para os maus, e recompensa para os bons. E foi do Zoroastrismo que os judeus aprenderam a crença em um Ahriman, um diabo pessoal, que, em hebraico, eles chamaram de SATAN - Por isso, o seu aparecimento na Bíblia só ocorre no livro de Jó e nos outros livros escritos após o exílio Babilônico, do ano 538 a.C. para cá. 


A tentação de Adão e Eva é feita pela serpente e não por Satanás, demonstrando assim que o escritor do Gênesis não conhecia Satanás.


 
Na bíblia, em Isaías 14:12, deu origem à palavra Lúcifer quando da tradução da Vulgata. Alguns teólogos citam ainda Ezequiel 37:2-11 como referentes a ele. No entanto, nos textos da Bíblia hebraica e grega, esta palavra (Lúcifer) não aparece. Vejamos uma tradução apurada do original hebraico:
"Como caíste dos céus, estrela filha da manhã. Foste atirada na terra como vencedora das nações"
 
Tudo isso posto, afinal de onde vem a imagem que temos do Diabo? Já que seu nome é muito controverso.

Com a ascensão da Igreja Católica, houve uma “elevação” no status da figura maléfica de Satan, para se firmar a nova religião, e exterminar as seitas pagãs, concorrentes, a Igreja começa começa a pesar sua mão de ferro: Se você não está com a Santa Igreja(Deus), está com ele(Satanás)...
 E a partir daí era preciso “pintar” um figura da forma mais assustadora possível...
Como a cultura grega/romana, com seus deuses ainda era muito forte na Europa, logo a Igreja associou ao Deus Pã (Lupércio ou Lupercus em Roma, ou Fauno e Silvano para os Latinos) que é o deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores, muito cultuado há época, diversos atributos ao diabo que conhecemos hoje.
 
Pã é representado com orelhas, chifres e pernas de bode, amante da música, traz sempre consigo uma flauta. É temido por todos aqueles que necessitam atravessar as florestas à noite, pois as trevas e a solidão da travessia os predispunham a pavores súbitos, daí o nome pânico.

No Gênesis, lemos que os filhos de Jacó degolaram um bode para com seu sangue manchar a túnica de José (Gn. 37:31).
O termo vulgar “bode” é designado pela mesma palavra que se emprega em outras partes para designar um sátiro. A palavra hebraica sa’ir significa propriamente “o peludo” e se aplica tanto ao bode como a qualquer outro sátiro, elemental ou divindade inferior, na mentalidade popular.

A cor vermelha - representa perigo na natureza, os animais com pele vermelha ou faixa vermelha no corpo, são os mais temidos, o vermelho também é cor que atrai e simboliza o poder.
Não foi a toa que os Nazistas utilizaram a cor vermelha em seu logo.
 
 O chifre - no na maioria das mitologias, representa também poder, ou sinal de algo Divino. Na Babilônia, o grau de importância dos deuses era identificado pelo número de chifres atribuídos a eles. Moisés fora representado plasticamente comchifres na testa, por uma má interpretação da Bíblia, na estátua de Michelangelo, bem como o próprio Alexandre, o Grande, encomendara uma pintura do seu retrato, mostrando-se com chifres de carneiro na testa....
O tridente - é uma arma poderosíssima da antiguidade, que representa também o poder, pois é superior a lança.
Poseidon/Netuno, fazia uso de um tridente...
 
 
Na verdade Shiva destrói para construir algo novo, é um deus “renovador” ou “transformador”. Suas primeiras representações surgiram no neolítico (4.000 a.C.).

O suposto clima no inferno, cheiro de enxofre, labaredas , tormento e todo o contexto de sofrimento, tem sua origem no mito de Hades/Plutão, que é o senhor do submundo, para onde vão os mortos.
No Tártaro, região mais baixa do submundo dos mortos, onde vão as almas malignas, que são julgadas e castigadas de acordo com seus feitos em vida. Em outra versão, Tártaro é exclusivamente onde estão aprisionados os titãs, quando na Titanomaquia vencida pelos Deuses sobre a liderança de Zeus.
Para os romanos, o Tártaro é o lugar para onde são enviados os pecadores. Virgílio o descreve na Eneida (livro VI). como um lugar gigantesco, rodeado pelo rio de fogo Flegetonte, cercado por tripla muralha que impede a fuga dos pecadores.
Zeus/Jupiter, deus dos deuses, derrota a serpente de vento, o Titã Tifon, que se rebelou, e o joga no tártaro, muito semelhante a queda de Satanás e dos anjos caídos, e serpentes como demônio.
Com essa miscelânea os lideres da Igreja, literalmente forjaram um mito, de um ser mau, com diversos poderes, que possui uma imagem assustadora, morador de um lugar terrível, e quem ousasse questionar a doutrina Cristã, enfrentaria castigos e sofrimentos eternos.
 
Tanto que durante a idade média havia um verdadeiro pânico, de pecar, e com isso ir para o inferno...

Expediente que a Igreja usou e muito bem para perseguir inimigos, tomar seus bens e torturar a seu bel prazer e posterior queima-los em fogueiras, ou quem fosse contra algum dogma, tinham o mesmo fim,  e tudo na conta do diabo...

Esse mito foi tão bem trabalhado no subconsciente do povo, principalmente no ocidente, que ainda hoje nomes como diabo, lúcifer, satanás, belzebu ou outros sinônimos, são proibidos de serem ditos, ou causam temor, desconforto, até pânico, e são espertamente usados para propagarem o "medo" em igrejas católicas e protestantes...
Tanto que seitas satanistas assustam, a ojeriza dá-se pelo nome, poucos se interessam em saber sobre o culto, que é basicamente um culto a Lúcifer, más não na visão judaica-cristã, e sim como uma associação ao Deus Prometeu, pois Lúcifer seria um anjo que trouxe luz para os humanos, e foi condenado a viver com os homens, expulso dos céus...
 Dois grandes artistas já foram satanistas, Paulo Coelho, que posterior apresentou a seita a Raul Seixas, ambos seguidores de Aleister Crowley, a grande besta.
Raul  apresentava-se com a capa satânica, más ninguém na época desconfiou, alegava algo místico,  dessa fase vem o Diabo é o pai do Rock...
 
Devido a mão de ferro da Igreja por quase 2.000 anos, que faz até hoje seitas não cristãs, serem vistas como adoradores do diabo, muitos praticantes de outras crenças temem assumir suas religiões, como na Umbanda ou no Candomblé, onde a figura , por exemplo, de Exu, que é erroneamente associada ao Diabo,  faz com que seus cultos sejam geralmente discretos, reservados, pois os resquícios da idade média com sua intolerância religiosa ainda são fortes.

Resumindo, tanto o diabo, na figura do mal, quanto Deus, na figura do bem, são representações criadas pelo Homem para justificar as coisas do cotidiano, desgraças e alegrias, injustiças e equidade.
Se  a entidade representativa do mal, tivesse toda a força que alegam, por que o Demo não incorpora no presidente estadunidense e provoca a 3ª Grande Guerra, por que ele só atrapalha a vida dos Cristãos? Ninguém vê um budista possuído  pelo Satanás, ou um muçulmano...rsrs
Más não, o Demo, poderia causar grandes estragos na humanidade, mas prefere atrapalhar a vida de pobres e desesperados, que por sua vez enchem os "bolsos" de alguns espertos que se utilizam desses mitos para lucrarem mais e mais....