Até onde você iria pelos seus ideais, muitas mudanças foram feitas
ao longo da história por pessoas que questionaram o sistema, quebrando dogmas, com conquistas nos direitos civis, políticos e sociais.
CONTEXTO HISTÓRICO:
Em
1955, Rosa Parks, uma mulher negra, se negou a dar seu lugar em um ônibus para
uma mulher branca e foi presa. Isso, na época, era um escândalo, pois
permanentemente a população negra era submetida a situações de humilhação, sem
que houvesse reação. Em solidariedade a Rosa Parks, os líderes negros de
Mongonmery organizaram um grande boicote aos ônibus da cidade. O protesto
contra a segregação racial durou 381 dias.
Durante a década de 60, os
E.U.A era um país que vivia uma segregação racial, principalmente no sul. Nesse
período, os negros não tinham direito nem mesmo ao transporte público, viviam
em condições desumanas, sofrendo com a superexploração do trabalho, com a falta
de direitos civis, como o voto, e com a violência policial.
Essa década foi marcada por muitos fatos marcantes, como o
assassinato de Malcom X, em 1965,
Muhammad Ali perdeu o título de campeão mundial dos pesos pesados por se
recusar a lutar no Vietnã, em 1967;
ai veio o ano de 1968...
No
plano político, o mundo fervia. Em abril, começou a Primavera de Praga, uma
tentativa do governo da Tchecoslováquia de romper pacificamente suas ligações
com a União Soviética. Em maio, estudantes franceses fizeram as Barricadas de
Paris, uma manifestação seguida de uma greve descomunal. Ainda em maio, nos
Estados Unidos, foi assassinado o líder ativista negro Martin Luther King; em
junho, o ministro da justiça Robert Kennedy, irmão do ex-presidente John
Kennedy, também seria alvo de um assassinato. Em agosto, tanques da União
Soviética invadiriam Praga, esmagando a Primavera.
Em
meio a esse caos, surgem os Panteras Negras, grupo revolucionário, que lutava pelos direitos da população negra.
O ponto mais controverso da doutrina do grupo era a defesa da resistência
armada contra a opressão dos negros. Fundado em outubro de 1966, o grupo nasceu
prometendo patrulhar os guetos (bairros negros) para proteger seus moradores
contra a violência policial. O movimento se espalhou pelos Estados Unidos e
atingiu seu período de maior popularidade no final da década de 1960, quando
chegou a ter 2 mil membros e escritórios nas principais cidades do país.
Aproximavam-se
os jogos Olímpicos da cidade do México. Nos EUA muitos atletas negros começaram
a questionar o por quê dos negros terem aquele tratamento diferenciado, sendo
que em toda Olimpíada mantinham os EUA em primeiro lugar no quadro geral de
medalhas, e isso em meio a guerra fria, com disputa árdua com a URSS.
Os
negros sempre foram superiores nos esportes, segundo o comediante Cris Rock
“somos 10% da população, más 90% dos playoffs”. Nos esportes eram celebridades,
más a realidade da maioria da população negra era bem diferente.
Um
boicote começou a ser cogitado, e só defenderiam as cores estadunidenses se
acabassem com a segregação racial.
Negros só podiam ocupar o fundo, mesmo se na frente houvesse lugar |
O
primeiro a opor-se a um eventual boicote foi George Foremam, disse que lutaria
de qualquer jeito, e liderou o bloco anti-boicote, em meio a turbulência os EUA
mandaram sua delegação.
Foreman com seu psedo patriotismo |
Final
dos 200 metros rasos, os estadunidenses Tommie Smith, medalha de ouro, e John
Carlos, de bronze, baixaram ligeiramente a cabeça e ergueram desafiadoramente
um braço com luva preta, na saudação consagrada pelos Panteras Negras,
mostrando para o mundo que os EUA não eram um país assim de liberdade, como aludida
no próprio hino.
O
medalhista de prata, o australiano, Peter Norman, deixou claro seu apoio aos
rivais. Recebeu a prata com um distintivo do OPHR na camiseta. Norman tivera já
uma participação relevante no bastidor do protesto mudo: Carlos esquecera o par
de luvas que colocaria caso subisse ao pódio. Norman, ao saber disso, sugeriu
que cada um dos americanos usasse uma luva.
Tommie Smith, John Carlos e Peter Norman |
A
imagem dos três no pódio é uma das cenas mais extraordinárias de todas as
Olimpíadas disputadas na era moderna, e com o tempo se transformaria num
símbolo resistente, poderoso, tocante do movimento de afirmação dos negros
americanos.
Para
Smith e Carlos as consequências foram implacáveis e duradouras. De imediato, o
Comitê Olímpico Internacional, COI, presidido pelo americano Avery Brundage,
proibiu que os dois velocistas tivessem outras participações (ambos estavam
escalados para integrar a equipe americana de revezamento) e exigiu a expulsão
da dupla da Vila Olímpica. O comitê olímpico americano não acatou as
determinações. Na manhã seguinte, o COI alertou que, se as exigências não
fossem cumpridas, toda a equipe americana de atletismo seria barrada das
competições. Desta vez, o recado foi entendido.
O
Comitê Olímpico Internacional condenou severamente o gesto, sob a alegação de
que esporte e política não combinam. A mídia americana criticou intensamente
Smith e Carlos. A revista Time sublinhou a “raiva e a feiúra” do protesto.
Correram rumores de que ambos perderiam as medalhas, o que acabou não se
concretizando.
De
volta aos Estados Unidos, Smith e Carlos acabaram relegados a um virtual
ostracismo pelas autoridades que comandavam o atletismo americano – brancas,
naturalmente.
"A
América branca diz que somos americanos quando vencemos e que somos negros
quando fazemos algo que julga errado." Tommie Smith.
Quanto
à contaminação dos Jogos pela política, ela já acontecera há bem mais tempo, e
através de outros punhos: na Berlim de 1936, todos os atletas alemães fizeram a
saudação nazista e ninguém reclamou.
Jesse Owens derrubando a ideologia de supremacia branca 1936 Berlim |
Menos
sorte teve o australiano solidário. Norman passou a ser ignorado pelos chefes
do atletismo australiano e, também, pela imprensa local. O racismo grassava
também na Austrália – onde os aborígines, os nativos, eram tratados como
cidadãos de segunda classe. Sua carreira entrou em colapso e, com ela, sua vida
pessoal. Norman logo teria problemas com bebidas. Jamais foi perdoado na
Austrália. Um dos mais repulsivos sinais disso é que ele foi ignorado pelos
organizadores das Olimpíadas de Sidney de 2000 – mesmo tendo sido um dos
maiores corredores da história do país.
Os
movimentos radicais foram sufocados nos anos 70 pela ação do FBI e a situação
foi gradativamente mudando para os negros americanos, mas não por ações diretas
da luta armada. Mesmo assim ainda é um país deverás racista, onde quem não é
branco é considerado “outra cor”
Com
a passagem dos anos os dois foram saindo de párias para aquilo que são hoje –
heróis.
Tommie Smith e John Carlos
ganharam uma estátua na Universidade de San Jose, na Califórnia, em 2005, ambos estudavam na universidade quando foram
selecionados para defender os Estados Unidos na Olimpíada de 1968.
Em 2008, numa premiação da
TV ESPN, ambos receberam o Arthur Ashe Courage Award, como prêmio de
reconhecimento à sua coragem.